sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Missão Madre Tereza

            As caixas de papelão não impediam que o inferno transpassasse o gelo das ruas ao corpo daquele homem, enrolado com alguns cobertores velhos que, mesmo doados de bom grado, não impedia que os músculos reagissem ao vento da manhã que o fazia tremer. Em plena praça Municipal da cidade, havia um mendigo jogado deitado perto de um coreto mal iluminado. Era segunda-feira, menos de oito horas da manhã. Duas crianças passavam por perto, e sem modéstia, taparam os narizes enojadas com o cheiro forte. No caminho para a aula, passaram a discutir como um ser submetia-se a tais circunstancias, não tomar banho e dormir na rua. Afinal, ele cheirava a fezes, o odor exalava pelo caminho todo. Algumas providências deveriam ser tomadas.
            E por entre as pessoas, a senhora viúva pensava no café da manhã dos filhos. Nas mãos, a sacola cheia de pães. A presença do homem ao chão chamou-lhe atenção. O rosto cadavérico, a crosta de poeira em seu rosto misturando-se a sua cor negra. Os roncos de sua barriga podiam ser ouvidos ao longe. A mulher não parou, mas enquanto caminhava, observava a cena. Porém, se ele estava ali, alguma coisa devia ter feito para merecer. Deus não faz as coisas injustamente.
            Um padre, sua bíblia em mãos e um terço n’outra. Fez um sinal da cruz ao passar, sem ao menos olhar. “Que Deus o abençoe”, pensou, enquanto seguia seu caminho até a paróquia tão próxima dali. Mesmo com o terço em mãos, a benção deveria ser dada por Deus, e sua missão ao desejar-lhe o bem estava cumprida.
           Um malote cheio de papeis e dinheiro acompanhava um empresário que tentava alcançar o auge de sua carreira. O homem que observava a movimentação com os olhos murchos, o fez parar por um momento. Em pleno centro da cidade, um indigente mal-cheiroso perturbava a paz de quem tinha de seguir o seu caminho. Incomodava. Seu cheiro, sua aparência, suas vestes. A beleza da cidade estava deturpada. Mas teve de continuar seu caminho, havia uma empresa mais importante para dirigir.
          Mais um grupo de crianças. Apostavam. Um beijo no mendigo para o garoto que perdera o desafio. E muitos risos foram ouvidos ao longe.
            - Nem por um milhão de dólares.
            E continuava a rir, os passos em direção a escola.
          Não era um milhão de dólares que saciaria sua fome, sua sede. Ia além de comida. Toda a sujeira que lhe cobria a alma teria de ser tirada com algo além de alma.
            Acho que há mais trabalho para Madre Tereza na terra...


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Por A. Sade

Um comentário:

  1. Infelizmente as pessoas são segas aos problemas alheios! Fingem que não estão vendo para acreditar que o problema nunca existiu! Um simples olhar não basta! Falta atitudes!


    Adorei o Texto ^^

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