As caixas de papelão não impediam que o inferno transpassasse o gelo das ruas ao corpo daquele homem, enrolado com alguns cobertores velhos que, mesmo doados de bom grado, não impedia que os músculos reagissem ao vento da manhã que o fazia tremer. Em plena praça Municipal da cidade, havia um mendigo jogado deitado perto de um coreto mal iluminado. Era segunda-feira, menos de oito horas da manhã. Duas crianças passavam por perto, e sem modéstia, taparam os narizes enojadas com o cheiro forte. No caminho para a aula, passaram a discutir como um ser submetia-se a tais circunstancias, não tomar banho e dormir na rua. Afinal, ele cheirava a fezes, o odor exalava pelo caminho todo. Algumas providências deveriam ser tomadas.
E por entre as pessoas, a senhora viúva pensava no café da manhã dos filhos. Nas mãos, a sacola cheia de pães. A presença do homem ao chão chamou-lhe atenção. O rosto cadavérico, a crosta de poeira em seu rosto misturando-se a sua cor negra. Os roncos de sua barriga podiam ser ouvidos ao longe. A mulher não parou, mas enquanto caminhava, observava a cena. Porém, se ele estava ali, alguma coisa devia ter feito para merecer. Deus não faz as coisas injustamente.
Um padre, sua bíblia em mãos e um terço n’outra. Fez um sinal da cruz ao passar, sem ao menos olhar. “Que Deus o abençoe”, pensou, enquanto seguia seu caminho até a paróquia tão próxima dali. Mesmo com o terço em mãos, a benção deveria ser dada por Deus, e sua missão ao desejar-lhe o bem estava cumprida.
Um malote cheio de papeis e dinheiro acompanhava um empresário que tentava alcançar o auge de sua carreira. O homem que observava a movimentação com os olhos murchos, o fez parar por um momento. Em pleno centro da cidade, um indigente mal-cheiroso perturbava a paz de quem tinha de seguir o seu caminho. Incomodava. Seu cheiro, sua aparência, suas vestes. A beleza da cidade estava deturpada. Mas teve de continuar seu caminho, havia uma empresa mais importante para dirigir.
Mais um grupo de crianças. Apostavam. Um beijo no mendigo para o garoto que perdera o desafio. E muitos risos foram ouvidos ao longe.
- Nem por um milhão de dólares.
E continuava a rir, os passos em direção a escola.
Não era um milhão de dólares que saciaria sua fome, sua sede. Ia além de comida. Toda a sujeira que lhe cobria a alma teria de ser tirada com algo além de alma.
Acho que há mais trabalho para Madre Tereza na terra...Por A. Sade
Infelizmente as pessoas são segas aos problemas alheios! Fingem que não estão vendo para acreditar que o problema nunca existiu! Um simples olhar não basta! Falta atitudes!
ResponderExcluirAdorei o Texto ^^