terça-feira, 30 de agosto de 2011

Diário de Morte


          Foram exatos um século e trinta e cinco anos e ao decorrer de todo esse tempo, algumas coisas marcaram. Era uma criança quando matei outra criança, aparentemente de mesma idade que eu, seu sangue ainda corre em minhas veias, ainda posso sentir o gosto em meus lábios e a inteligência prodígio do moleque. Foram as primeiras coisas que aprendi sem o auxilio de meu pai. Ao longo do tempo, aprendi coisas que me foram importante para a vida toda e valores foram injetados na minha cabeça sem meu consentimento, valores que fluíram pelo meu corpo e um tempo depois vomitei feito carne morta.
           A primeira viagem com meu pai me saiu completamente fora do controle. No norte da Inglaterra encontrei Ângela, mulher a qual achei estar enamorado, uma confusão de desejos sexuais que acabou em gemidos e sangue. Fui punido. Em conseqüência de minha sede, a seca por um ano. Definhei, achei que morreria, mas o mundo ainda me reservava muita coisa. Não me deixaria morrer tão facilmente. Depois disso, passei por uma serie de treinamentos que me ajudariam a controlar minha sede, um tipo raro de vampiro que não morde a vitima na primeira noite como um cachorro faminto por osso.
        Em meados dos anos de 1923, meu caso com Paloma Danverson tornou-se mais sério do que o esperado. Achava que sexo se resumia a penetração e sangue, o que resultava o prazer, mas Paloma me mostrara o quão maior pode ser o prazer quando com alguém que sabe como fazer. E ela sabia. Impossível descrever em poucas paginas os cômodos e moveis da casa, as posições e os tantos hematomas escondidos em nossos corpos e sorrisos discretos uns aos outros quando perto de muita gente.
    Interrompendo tal fase, na Alemanha houve a Segunda Grande Guerra, a qual, pateticamente, fiz parte da força ariana por incentivo de meu pai, comandante de uma das tropas. Torturei judeus, negros e homossexuais, a maioria deles acabava sem muito sangue no corpo. Minha melhor época. Não fazia questão nenhuma de controle – se acabariam mortos de qualquer maneira, melhor que fossem pelas minhas mãos. Conheci Lorena no campo de batalha, enfermeira de guerrilha. Fora minha amante durante todo o período em que estive em campo e achei que a amasse, já que o que sentia era mais forte do que qualquer sentimento materno internalizado em mim. Permaneci cegamente iludido até encontra-la de quatro para um soldado alemão. Foi quando descobri que era mais inteligente do que aparentava ser. Arranquei pedaço por pedaço da pele dele. Quando ele gritou por sede, dei-lhe acido e por noites o ouvi chorar de desespero enquanto o líquido corroia seu estomago. Lorena permanecia amarrada, apenas vendo... Estava horrorizada, não por menos. Ainda tinha a aparência de treze anos, enquanto ela – vadia maldita – tinha lá seus vinte e nove. Por fim, terminei o serviço com minha amada. Numa mulher há três chances de penetração: oral, anal e vaginal. Criei uma quarta, em sua barriga, e não me lembro de ter me excitado tanto em experiências anteriores.
        Quando de volta para a casa, percebi o quanto era estranho o meu amor e isso por que ria de minhas lembranças enquanto guardava numa caixinha as cartas que ela me escrevera, fazendo mil promessas. Saciava minha ânsia sexual com Paloma, era minha diversão nos momentos de cansativas reuniões familiares. Numa delas, conheci Victor Beanch, completamente diferente de quem eu era exteriormente. Fumava sem ter que se esconder, era adapto as transformações do mundo e mesmo não sendo vampiro de sangue como eu, era muito mais bacana ser quem ele era. Num acesso influenciado de rebeldia, mandei meus pais a merda. Minha irmã de sangue tinha uma casa no sul da Espanha, a qual me instalei bem mesmo com a ausência constante dela.
         Estava fixado na Espanha, mas passei por França, Itália, Portugal, Brasil, dentre outros países. Conheci Sarah, Catarina, Pandora, Cristina, Mariana e Jussara. Matei Sarah e Cristina, trepei com Catarina, Mariana e Jussara juntas. Transformei Pandora... Não era apenas uma garota bonita, não foi apenas uma transa legal e nem uma mutação sem sentido. Ainda sinto falta da minha companheira de solidão nos tempos depressivos em outros países, mas cartas sempre matam a saudades, mesmo que artificialmente.
         De volta a Espanha, trouxe comigo o vicio de brincar com a comida. Funcionava de uma maneira simples: conhecer, fazer da vitima mais próxima, faze-la apaixonar e depois, terminar com tudo da melhor maneira. Sangue. Dentre todos que passaram por minha vida, houve Brietha. Não tinha nenhum tostão, era abusada pelo pai e completamente submissa a isso, apesar de sua inteligência. Deveria ter a usado antes de se deixar levar tanto. Descobriu rápido quem eu era, sobre minha espécie, mas permaneceu em silencio. Usou ao seu favor o que sabia quando a mordi, cortou-me o pulso enquanto eu me extasiava com seu sangue e igualmente, tomou o meu. E agora, além de vampiro, Brietha via em mim um tipo de novo líder, ao qual faria tudo o que fosse necessário.
       Éramos então eu, Victor e Brietha no final da década de 80, o sexo droga e rock ‘n’ roll eram o clichê midiático que mais nos chamava atenção. Havia o sexo. Havia a droga. Faltava então o rock ‘n’ roll. Formamos então a Prólogo, os que dariam continuidade a qualquer história pela eternidade. A banda tocava por diversão apenas, em bares e pubs da cidade, ganhávamos fama e garotas que, conseqüentemente, indomavam o meu sexo. Tínhamos de controlar nossa sede. A cidade era pequena, se todas as pessoas começassem a sumir, teríamos rápido de arranjar um novo rumo. Mas muitas delas não mais voltavam aos bares.
       Numa de minhas noites sozinho, as quais dedicava a reflexões, conheci na sacada de um prédio de subúrbio, Ana Marchneal. Desejava não a ter conhecido. Não se sabe o que é felicidade antes de conhece-la, não se sabe o que é amor quando não o sente verdadeiramente. Ana foi o melhor que aconteceu em minha eternidade, nenhum toque se comparou ao dela, nenhuma transa se comparou ao amor que fizemos. As cores do mundo foram mais vivas, e pela primeira vez, deixei de lado minha busca pelo que não sabia. Não precisava de nada ao redor...
        E se tudo o que lhe preenche é covardemente tirado, estou certo em dizer que só lhe resta o nada. E independente de quantas linhas mais possa ter essa história, ela se acaba no ponto em que o ultimo sopro de vida deixou seus pulmões. Se acaba no momento em que o brilho deixou seus olhos. Então tudo perdera o sentido.


Por A. Costa

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