terça-feira, 10 de abril de 2012

Dedigno.


Então, es tu o ser vampiro que tanto roubava-me os sonhos? Pois não vejo caninos, palidez ou cicatrizes.

Diga-me, senhor... Onde está o seu desejo de possuir a mim? O meu sangue ainda pulsa aceleradamente, mesmo quando meu coração ameaça parar diante de sua presença, mas, por Deus, quem és tu que não correspondes aquele que, em meus sonhos, me toma nos braços com a mais brusca delicadeza e, com um beijo de morte, sela-nos um pacto de sangue, onde o meu preenche o seu corpo e juntos valsam em tuas veias tão profundas?            
Corrói-me a agonia de ver-te parado, como um fantoche do mundo que faz de ti o que quer. Tantas mentiras que o fazem o mutante perfeito, capaz de amar e viver de amor, renega-te o sangue que corre nas veias, renega-te a história e da-te uma alma de luz que, por todos os infernos, pode descansar no glorioso céu. És o que lhe fazem.
Aprofundo-me em teus olhos e vejo que não sabes mais o que temer, meu ser vampiro. Não ardes ao sol, não te prejudica a santidade. O deus que pus em meu pedestal agora está caído.
Todas as histórias se desfazem em cinzas. Os mais doces temores transformam-se em chacota do mundo real, e encontro-te aqui, vestido de príncipe encantado, encantando mais sonhos além dos meus, sonhos que trazem suspiros apaixonados e dispensam gritos e gemidos na calada da noite. Pois elas o querem, ser monstruoso. Arrancam-lhe o belo e lhe fazem prisioneiro de suas páginas.
E eis me aqui! Calada. Sufocada.
Traço minha nova caminhada, a caçar sobreviventes deste massacre degredado. A procurar novos senhores dispostos a satisfazer a sede por sangue em minha taça que transborda, satisfazer-me com a mais sublime crueldade. Deixo-te aqui, senhor vampiro. A brilhar sob o sol como tantos lhe querem.

Por A. Sade

quinta-feira, 1 de março de 2012

Clarissa Martins .


Não sou desses rapazes boêmios que vivem intensamente no romantismo da vida. Mas sempre acreditei em anjos. Desses que não precisam de asas, apenas suas luzes nos mostram o quão grandiosos são. Anjos como minha mãe e dona Joana, elas que são o verdadeiro esboço traçado na bíblia, de bondade e salvação. Anjos como Alice, crianças inocentes e por vezes, imaturas, mas com corações acolhedores. Como Maria que, depois de apedrejada, reza pela alma de seus inimigos. E Clarissa... Em toda sua inocência e carisma, suas palavras e gestos, até em suas lágrimas mais doloridas, eu sabia que Clarissa era um anjo, dos mais lindos.

A Forca dos Anjos - Por Juan B. Christovan

A. Sade

domingo, 8 de janeiro de 2012

( Máscaras ) Parte Final - Pudores


Então o fiz.
 A abracei pelas costas, enquanto ela guardava as coisas na mochila. Não esboçou nenhuma reação. Beijei-lhe o pescoço, descendo minhas mãos por sua cintura, e vagarosamente, a virei para mim. Tive de erguer seu rosto, deixa-lo frente ao meu, os olhos dela fechado, o corpo relutando. Encostei meus lábios nos dela, selando-os lentamente, segurando-a pelo queixo para impedi-la de virar-se, de recuar. E como quem se deixa vencer depois de uma batalha, ela enfim cedeu, entrelaçando a língua na minha, os olhos fortemente fechados. Suas mãos ainda estavam afastadas, escoradas na mesa de madeira, mas sabia eu que era questão de tempo para tê–la rendida, onde eu desejava.
Sem mais controle sobre meus movimentos e pensamentos, a empurrei mais para mesa, fazendo-a sentar-se desajeitada, ainda relutante, mas tão fraca que me pareceu haver uma batalha interna entre seu corpo e espírito. Senti suas mãos tocarem meu peito onde um coração pulsava tão forte que a qualquer momento me saltaria pela boca. Ela me empurrava, mas seus lábios colados aos meus só me faziam impulsionar, querer mais daquela que fazia de mim o moleque mais idiota da terra! Mas eu tinha de provar, tinha de provar que nenhum outro poderia faze-la tão bem, ninguém mais partilharia segredos escrotos ou conversas tão longas ao pé da noite.
Philipa comprimiu os lábios, fechando mais fortemente os olhos. Minha língua ansiava mais da sua... Porém nenhum toque a fizera ceder. Philipa estava parada, imóvel agora, como uma estátua! Um objeto. Engoli seco por um tempo mais, sem a devida coragem para encara-la.
 - Quando vai aprender, Henri? – a frieza de sua voz viera de encontro com a minha alma, me machucava mais do que suas lágrimas de sangue.
O silêncio que se fizera me obrigara a olhar para seu rosto. Seus lábios tremiam levemente, mas tentava manter a expressão. Sentia como se uma estante de livros caísse a minhas costas, o que me pouparia de encarar muito tempo seus olhos, tão maduros, quase irreconhecíveis a mim.
 - Eu só... não suporto a idéia, Philipa! – deixei que as palavras escorressem, sem mais me deixar levar por pensamentos que me levariam a esmurrar outro aluno qualquer. Quando me deixava guiar por meu anjo idiota interior, as coisas costumavam sair do meu controle. – Eu quero você!
 - Pensasse antes de me jogar no buraco! De achar que depois de tanta merda que fez, eu voltaria a acariciar seus cabelos, Henri... Vá se danar! – disse por entre dentes, passando a mão nos olhos, secando lágrimas pesadas, o peso recaindo-se sobre mim.
 - Eu me arrependo! Fico de joelhos diante da porca santidade que você acredita e me resigno perante a tudo que fiz. Me desculpo por Mérope, minha penitência está sendo cumprida de espontânea vontade! Vamos traze-la de volta! Por Nicolas, por Isabelle, por Andrej e por todas as vadias que levei pra cama, mas, por favor... Olhe pra mim! – me ajoelhei no chão, sem mais conter a ardência nos olhos, a sensação de derrota que muitas vezes sentira, com mais freqüência na infância. – Eu a amo! Posso ser um merda agora, mas estarei pior sem você, Philipa!
Por um tempo, ela permaneceu me olhando, os olhos brilhantes. Todo aquele silêncio ameaçava me esmagar, não acreditava que existia tortura maior. A porta dos meus dezoito anos, sairia do colégio naquela semana para nunca mais voltar. Cumpriria uma missão que poderia custar meu pescoço, mas estava disposto a ajudar e afogar o meu passado mesquinho. Parte de tudo era por ela, por Philipa. Mas ela balançou a cabeça negativamente enquanto se levantava, me olhando a seus pés agora. E sem mais uma palavra, saiu da biblioteca, deixando-me na companhia de um fantasma, quase um símbolo para eu lembrar-me da frieza de seus olhos.

Por A. Sade